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Conservatório Maestro Paulino recebe acervo de partituras da Família Tigges

Quantas músicas cabem em uma única sala? As estantes do Acervo do Centro de Música de Ponta Grossa abrigam séculos de música clássica arquivadas em partituras. Recentemente, esse acervo se ampliou, graças a uma relevante doação da Família Tigges. O acervo de partituras que pertencia ao casal Paulo Gerhard (in memorian) e Karin Tigges, residentes em Curitiba, foi doado pela filha do casal, Christiane Tigges Blum, à cidade de Ponta Grossa. Filhos de imigrantes alemães, nasceram na terceira década do século passado - Paulo em Curitiba e Karin na cidade de São Paulo.

Ao todo, o lote doado conta com 360 exemplares de partituras para flauta, piano, canções folclóricas alemãs e música de câmara em geral. “Foi um grande presente”, comemora Ana Maria Dropa, responsável pelo acervo do Centro de Música. “Geralmente as pessoas ficam com as coisas querendo guardar para elas. Mas chega um ponto em que percebem que a doação pode beneficiar muitas outras pessoas e muitos alunos no futuro. Fica muito mais fácil a família doar e nós cuidarmos do material. Isso ficará para as novas gerações”, destaca.

Ana participa de todas as etapas de manutenção e preservação do acervo, onde higieniza, cataloga e torna o material disponível para pesquisas. O primeiro passo do trabalho é fazer uma triagem de todos os materiais recebidos, a fim de relacionar o conteúdo, separando-os por suas especificidades. Então, é feita a higienização dos documentos, passando pincel de forma apropriada por todas as folhas de cada documento. Após limpo, o material é acondicionado em um espaço arejado, com temperatura equilibrada e colocado deitado para que as folhas se recuperem das possíveis dobras e marcas do tempo. Em seguida, todos os documentos são carimbados e registrados para facilitar a organização e, futuramente, a busca.

Quando o material chega, começa todo um processo de investigação sobre possíveis datas, origens e curiosidades. Foi assim com uma das partituras recebidas neste lote, que, pelo tipo de papel, tinta utilizada, fontes e carimbos de editoras, localizou-se, por exemplo, a partitura mais antiga do Acervo Tigges: uma peça para piano publicada em 1850, considerada obra rara dentro do acervo.

Douglas Passoni, pesquisador e diretor artístico do Conservatório Maestro Paulino, explica que, de acordo com a lei nº 8.159, de 1991, a coleção de documentos presentes no Acervo pode ser denominado como um arquivo especializado, quando da sua formação ser integrada por “conjuntos de documentos produzidos e recebidos por instituições de caráter público e/ou entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos”.

Passoni ressalta que esse trabalho de conservação e organização do acervo musical é de extrema importância para a cidade de Ponta Grossa, visto o descaso na área nos últimos tempos em todo o país. Ele lembra, porém, de exemplos de preservação de documentos musicais no Brasil, como a Biblioteca Nacional (RJ), com mais de 250 mil exemplares relacionados à música, o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), o Conservatório Alberto Nepomuceno, em Fortaleza (CE), e o Instituto Piano Brasileiro, com sede física em Brasília, que na sua essência trabalha com o resgate e preservação da música pianística brasileira e outras formações musicais diversas. “Abrigar esse rico acervo e poder manter ele higienizado e organizado é um privilégio nos dias de hoje”, comenta o diretor.

Uma família unida pelas notas musicais

Christiane Tigges Blum conta que apesar das muitas dificuldades financeiras, a música - tradição antiga das famílias na Europa - continuou sempre sendo cultivada. Paulo teve aulas de violino, Karin de piano e, mais tarde, aprendeu a tocar flauta doce. “Todos os eventos na família e igreja eram acompanhados da nossa música. O Natal sempre marcado pelas belas canções alemãs. Muitos verões se destacaram pela participação nos festivais de música, que aconteceram em Curitiba desde 1965 e deram origem às atuais Oficinas de Música”, relata a filha.

Os Tigges foram associados à Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê por muitos anos, época na qual a família toda era reunida para assistir a concertos, recebendo também músicos estrangeiros em sua casa. Karin fez parte da Ordem dos Músicos em Curitiba e, na década de 1980, foi formado um quarteto de sopro de flauta doce no Solar do Barão, do qual ela tocava ao lado da filha Andrea em concertos e audições.

“Considerando a música como instrumento para promover a ampliação dos horizontes, contribuindo com a socialização, a melhora da qualidade de vida, estimulando os desafios e talentos individuais, acredito que a conservação de acervos para uso e pesquisa é de grande importância. Para mim, a música faz parte de uma das grandes formas de expressão do ser humano. Somos todos envolvidos pela música, desde aqueles que a compõe e que a executam, até aos que a ouvem! Sou muito agradecida, em nome de toda a família, pelo empenho na conservação do acervo de nossos pais”, afirma Christiane.

Doações

Pessoas e famílias que tenham o interesse de doar partituras integrantes de acervos particulares podem procurar o Centro de Música, que fica no Complexo Cultural Jovanni Pedro Masini (Rua Frederico Wagner, 150 – Olarias), ao lado da Biblioteca Pública. O telefone para contato é o 3220-1000 – ramal 2297. A Prefeitura não faz compra de acervos, porém, se compromete a organizar e preservar as doações que forem feitas.

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