Uma foto antiga de um barco que até confunde-se com um postal, para algumas pessoas traz nostalgia, para outras não diz muita coisa, muitas vezes a imagem passa despercebida e não recebe o seu devido valor. Por trás desta fotografia que compõe o acervo do Parque Histórico de Carambeí, que parece ser apenas uma imagem estática, há um registro de família que conta uma linda história.
A imagem foi registrada na Holanda, a foto pertence as memórias de Cornélia Arina de Geus Xavier de Macedo e foi cedida juntamente com outras fotografias para compor o acervo iconográfico do Parque Histórico. Cada um dos retratos possui uma história que precisa ser contata em algum momento pelos historiadores e estagiários, corpo técnico que compõe o Núcleo de História e Patrimônio do museu.
Os historiadores querem conhecer e revelar muitas outras histórias que estão registradas por meio da fotografia. Por isto, a Associação Parque Histórico de Carambeí pede a comunidade que se sensibilize, faça como a senhora Cornélia e ceda registros familiares ligados a memória de Carambeí até o ano 2.000. As fotos serão digitalizadas pelos profissionais do Núcleo de História e serão devolvidas aos proprietários. Mais informações pelo e-mail leonardo@aphc.com.br, ou pelo telefone 42 3231-5063.
Barco Hendrika
Por trás da imagem desgastada pelo tempo, do registro de um barco de 17 toneladas que era utilizado em transportes e que pertencia a família Aardoom, há muita história para ser contada.
A embarcação pertenceu a Leendert Aardoom, foi um presente que recebeu de seu pai quando se casou. O barco era utilizado para transporte de mercadorias entre duas cidade holandesas, S’Gravendeel e Dordrech, assim Leendert ganhava dinheiro para sustentar sua esposa e seus 9 filhos.
Durante a II Guerra Mundial o sr. Aardoom continuou o seu ofício, mas neste período passou a ser vigiado por soldados nazistas e sem saber passou a transportar armas que eram escondidas no barco, por seu filho Bastiaan Aardoom. Quando passava pelo posto nazista, que ficava no canal em direção a Dordrech, era questionado sobre o que carregava e afirmava que eram apenas verduras e batatas, sem saber que embaixo de toda a mercadoria haviam armamentos.
Bastiaan integrava um grupo de jovens aliados a Inglaterra e que secretamente lutavam contra os alemães, intitulavam-se Força Interna de Neederland. As armas escondidas no barco de Leendert eram lanças por meio de paraquedas por aviões ingleses, a noite o jovem as recolhia e as escondia, secretamente depois da embarcação ser descarregada o armamento era passado a diante.
O Barco Hendrika também serviu como esconderijo para um piloto inglês, que teve seu avião abatido por nazistas, até que este encontrasse um local seguro. Johanna, irmã de Bastiaan, foi a única pessoa que sabia de seus segredos e na ocasião alimentou o piloto.
A embarcação que garantia o sustento da família de Leendert, que guardava os segredos de Bastiaan, ficava em um canal atrás da casa dos Aardoom e teve um triste fim. Próximo ao final da guerra, por desespero ao perceber que estavam perdendo a luta, os alemães confiscaram o Barco Hendrika e o afundaram. Este fato foi muito doloroso para Leendert que nunca se conformou com o ocorrido.
Ao final da guerra o barco foi içado, mas estava totalmente enferrujado. Leendert tentou consertar o que foi possível, mas logo vendeu. No final de 1950 deixou a Holanda e imigrou para o Carambeí, onde já moravam alguns de seus filhos.
Este lindo e emocionante relato foi contado por Cornelia Arina de Geus Xavier de Macedo, neta de Leendert Aardoon.